Uma luz acendeu no painel do carro, Gustavo nunca tinha visto aquele símbolo antes, dois círculos, lado a lado, com uma linha horizontal cruzando ambos bem no centro e o fundo azul. Chovia fraco na estrada vicinal que ligava duas cidades do interior de Roraima. A estrada tinha vários buracos, fazendo com que Gustavo dirigisse em baixa velocidade. Gustavo acendeu o farol alto, outro símbolo azul se acendeu no painel, não era isso. Com a luz alta, ele não viu um buraco. O pneu do carro bateu com força na borda da cratera, fazendo o carro levantar a frente. Quando caiu de volta no asfalto, o carro começou a pular e fazer barulho de pneu furado.
- Caralho! Só me faltava essa. – Disse em voz alta, tentando parar o carro no acostamento. Acostamento era dizer muito, apesar de ter um degrau pequeno, havia apenas grama na beira da pista. Com a chuva que caía e um pneu a menos, Gustavo perdeu o controle e derrapou o carro para dentro do gramado, deslizando para dentro de uma vala que antes não era visível. O carro parou tombado de lado, a porta do carona presa na lama que se acumulou no fundo da vala. Gustavo soltou o cinto de segurança e caiu com o rosto no vidro do carona.
- Merda! – Gritou Gustavo frustrado, enquanto tentava se ajeitar dentro do carro. Tirou o celular do bolso, a tela estava trincada. Apertou o botão e a tela acendeu, mesmo quebrada. Ligou para emergência, mas ouviu apenas um apito, ao olhar para o visor percebeu que estava sem sinal. Mesmo assim tentou acessar a internet. Em vão. Gustavo sentiu algo molhar sua perna, estava ajoelhado em cima da porta, com a luz do celular viu que água suja começava a cobrir o vidro. Se levantou e tentou acender a luz interna do carro, mas ao acionar o interruptor, o painel e o farol se apagaram, deixando apenas a luz do celular visível.
- Preciso sair daqui. – Pensou.
Olhando para a parte traseira do carro, descobriu o vidro lateral rachado, era por ali que a água estava entrando. Ficou em pé e tentou baixar o vidro da porta do motorista, que estava voltada para o céu. O vidro elétrico não deu sinal de vida. Tentou abrir a porta, mas era pesada, e quando ele estava na ponta dos pés, ela não estava aberta nem pela metade. O celular caiu novamente na água. Gustavo soltou outro palavrão e se abaixou rapidamente para pegá-lo, batendo o rosto no volante enquanto fazia isso. Ficou atordoado e se sentou na água por um instante, mas ainda assim conseguiu tirar o celular do chão. A água aparentemente não danificou o aparelho. Olhou para o banco de trás e viu apenas alguns papéis, folhetos e promissórias agora ensopados. Voltou a se levantar, apoiou as costas no volante e empurrou o banco do motorista com os pés, agora mais alto, conseguiu abrir bem a porta, mas ela não parava aberta, então foi se erguendo do carro empurrando a porta com as costas enquanto saía. Uma vez em cima do carro, pulou direto na encosta da valeta, mas a grama molhada fez com que escorregasse e rolasse até o fundo, batendo no teto do carro e se sujando de lama.
A chuva não parou, o corpo dolorido não ajudava, mas Gustavo conseguiu subir os quase três metros da encosta. Olhou para os lados e não via nada, o breu tomava conta de tudo. Nem um mísero relâmpago para clarear a vista. Mas como tinha acabado de sair da pista, Gustavo resolveu andar de volta para ela e procurar ajuda. A luz do celular era fraca, iluminava apenas a parte imediatamente adiante dele. Gustavo andou vários metros e não encontrou a pista, apenas grama. Ensopado da cabeça aos pés, ele resolveu voltar para o carro. Pegaria uma muda de roupas secas no porta-malas e daria um jeito de passar a noite ali. Era difícil se orientar no escuro, mas Gustavo voltou o que parecia ser o mesmo caminho que tinha feito para chegar até ali. Andou vários metros e achou estranho não encontrar o carro, tinha a impressão que estava mais perto, então continuou a andar, até ter certeza que havia andado mais que a distância original. Não encontrou o carro. Olhou para o celular e este ainda estava sem sinal. Voltava novamente o caminho, quando o celular apagou. Apertou os botões, bateu na tela mas nada aconteceu. Finalmente a água tinha feito seu estrago. Agora no escuro, com a única fonte de luz disponível sem funcionar, ouvindo apenas a chuva cair, Gustavo gritou de frustração. Caiu de joelhos e não sabia o que fazer. Após alguns minutos, com os olhos já acostumados à escuridão, percebeu um brilho tênue à frente. Olhou em volta e não encontrou nenhum outro tipo de luz. Decidiu seguir nesta direção, procurar ajuda. Talvez um telefone. Gustavo andou por vários minutos, mas a luz não parecia se aproximar. Estava cansado, molhado, com frio e fome, quando do nada um relâmpago cruzou o céu atrás das nuvens. Apesar do susto, Gustavo vislumbrou uma casa antiga, distante, na direção em que seguia. Também pensou ter visto um vulto mais para a esquerda, mas firmou os olhos e não viu nada além da escuridão. Apurou os ouvidos, mas ouviu apenas a chuva. Começou a andar mais rápido, queria chegar logo à casa, de repente aquele lugar aberto não parecia tão seguro. Por duas vezes pensou ter visto dois pontos luminosos, como dois olhos refletindo alguma luz, acompanhando seus passos de longe, mas sempre que tentava focalizar o local que vira com o canto dos olhos, apenas via a escuridão. As vezes tinha a impressão de ouvir passos leves ecoando por sua volta, mas quando parava, não escutava nada além da chuva que caía. Gustavo correu. Poucos metros à frente, Gustavo voltou a andar. Não era do tipo atlético, já estava cansado. Não ouviu nenhum barulho além da chuva e de seus passos, então voltou a se tranquilizar. A luz já estava perto, mas ainda era muito difusa para saber sua origem. Algum tempo depois, Gustavo parou em frente à luz. Provinha de uma janela no andar superior de uma construção que parecia ser uma casa. A luz era fraca demais para iluminar a frente da edificação, então ele começou a tatear na escuridão procurando uma porta. A parede parecia ser de tijolo à vista, algumas janelas com grade na frente até achar uma porta dupla de madeira. Bateu algumas vezes e esperou. Nenhum som ou luz veio da casa. Bateu novamente e tentou empurrar a porta, mas esta não cedeu.
- Ô de casa! Tem alguém aí? – Gustavo começou a chamar – Olá.
Gustavo recuou alguns passos e tentou olhar para a janela iluminada, viu o forro de madeira interno quebrado, e parte das paredes que pareciam manchadas. Quando estava baixando a cabeça, viu de relance um vulto passando pela janela, mas ao olhar de volta, não tinha nada ali. – Deve ser minha imaginação. – Pensou. Ainda estava olhando para a janela quando sentiu sua perna direita arder violentamente. Olhou para baixo mas não viu nada, estava muito escuro. Colocando a mão na perna, notou que a calça estava rasgada e um líquido quente onde ardia. – Sangue. – Pensou, e correu para a porta gritando: Me deixem entrar! Tem alguma coisa aqui fora! – Quando chegou na porta e empurrou, esta cedeu facilmente, fazendo com que ele caísse de joelhos. Na mesma hora sentiu um cheiro ruim, de madeira molhada, alimentos podres, excrementos, suor e outros odores que não conseguiu identificar. O ar parecia pesado. Assustou-se com o barulho que a porta fez ao fechar atrás dele. Levantou-se e tentou abrir novamente a porta. Em vão. Tateou procurando um interruptor, encontrou e tentou ligar, mas não funcionou. Algo caiu do seu lado fazendo um grande barulho, Gustavo se assustou e se afastou para um canto, quando se encolheu, a luz da sala acendeu. Apenas uma lâmpada fraca com o bocal pendurado pelos próprios fios de energia, mas era suficiente para iluminar aquele aposento. Perto da entrada havia alguns pratos caídos e quebrados, provavelmente foi esse o motivo do barulho, mas não havia nenhum armário em volta, de onde vieram esses pratos? Uma porta à esquerda, uma no fundo e uma abertura à direita que levava ao que parecia uma cozinha. Também havia uma escada em espiral no canto do fundo, que levava ao andar superior. Gustavo tentou se levantar, mas sentiu a perna arder novamente, lembrou-se do que acontecera do lado de fora e foi examinar, descobrindo que grande parte da calça estava rasgada, e dois arranhões profundos iam da lateral do joelho até quase o tornozelo, de onde brotava bastante sangue.
- Alguém em casa? – Tornou a perguntar, mas apenas obteve o silêncio como resposta. Decidiu então procurar na cozinha algum pano para enrolar na perna e tentar estancar o sangue, quando entrou, encontrou uma mesa coberta com uma toalha xadrez vermelha e branca, alguns armários abertos que mostravam louças, panelas e latas fechadas, tudo coberto com muita poeira. A pia continha vários pratos e copos por lavar, mas pareciam estar ali por anos. Gustavo decidiu pegar a toalha da mesa e bater a poeira antes de enrolar na perna, o que causou uma grande nuvem de sujeira, chegando a fazê-lo engasgar com o pó. Sem muita escolha, enrolou o melhor que pode aquele pano sujo na perna. Decidiu olhar o andar de cima, onde viu a luz acesa no quarto. Quando chegou ao umbral da porta, escutou vários sons de pancada às suas costas, virou-se e viu que todos os armários estavam fechados. Correu para a escada e começou a subir, alguns quadros estavam na parede, mas não conseguia ver as imagens, pois a luz do cômodo só tocava os primeiros degraus. Logo que chegou ao topo, ouviu uma música antiga, cheia de estática. Por um momento ficou parado no topo da escada, mas começou a ouvir passos subindo os degraus atrás dele, procurou o interruptor e acendeu a luz logo acima da escada, virou para trás mas não tinha ninguém subindo. Observou uma porta entreaberta, com uma fraca luz saindo por ela. A música parecia vir dali também. Correu em direção à porta e entrou. Um quarto de dormir, com uma cama de molas no canto, sem colchão, papéis de parede rasgados, revelando uma parede suja e cheia de mofo. Em uma pequena mesa perto da janela, uma antiga vitrola tocando um disco gasto, cheio de poeira, com duas pequenas caixas de som de um lado e o fio da tomada solto na mesa.
- Mas o quê... – Começou a falar, quando ouviu o som de uma pancada no lado de fora. Gustavo correu para a janela e forçou a vista, mas conseguiu ver apenas um vulto de algo grande, animalesco, que se jogava contra a porta da casa. Vez após vez. Mas a porta resistia. Gustavo procurou algo para jogar no vulto, mas não havia nada no quarto, a não ser a vitrola. Apesar do medo, Gustavo pegou as caixas de som, colocou em cima da vitrola, pegou o aparelho por baixo, era mais pesado que ele imaginou, mas isso era bom, o estrago seria maior, avançou para a janela, calculou o momento de jogar tudo no vulto e empurrou tudo de uma vez. Enquanto caía, a vitrola soltava seu último lamento. Quando atingiu o chão, um relâmpago cruzou o céu, a chuva parou abruptamente e se fez silêncio. Nenhum som de música, chuva, passos ou mesmo folhas ao vento era ouvido. Por alguns instantes, Gustavo apurou os ouvidos mas só escutava o som da própria respiração. Percebeu como estava assustado, seu coração batia forte e acelerado. Recuou um passo da janela e o assoalho sob seus pés rangeu. Gustavo parou imóvel, nada aconteceu. Deu mais um passo, o assoalho rangeu novamente, ele resolveu sair do quarto e quando estava alcançando a porta, ouviu algumas pancadinhas no chão, como se alguém batesse no teto do andar de baixo. Correu para o corredor e entrou na primeira porta que encontrou. Tateou a parede até achar um interruptor, a luz fraca mostrou um aposento sem janelas, paredes pintadas de um pálido amarelo, chão de madeira e no fundo, junto à parede, um espelho oval, que mostrava o corpo inteiro. Gustavo se aproximou do espelho, olhou atrás dele, mas só havia a parede fechada, voltou a olhar para o espelho e, atrás do seu reflexo, viu uma criança pálida pendurada na parede, quase no teto, olhando fixamente para ele. Gustavo virou-se rapidamente, mas não havia nada ali, voltou a olhar no espelho, que agora se encontrava vazio. Ouviu passos do lado de fora, correu fechar a porta e ficou segurando a maçaneta. Os passos pararam. Gustavo perguntava-se se deveria abrir a porta ou não, quando a maçaneta começou a girar. Ele fez força para mantê-la fechada, enquanto a porta começava a vibrar com pancadas fortes provenientes do outro lado. Gustavo olhou de relance o espelho, viu uma aranha descendo do teto, em sua direção, olhou para cima e não havia nada, nisso a porta ficou quieta. Nenhum som se fez por algum tempo. Gustavo olhava para o espelho, procurando alguma ameaça, quando um pequeno trinco partiu da base e foi subindo até o topo, deixando ramificações que iam aumentando lentamente, até o espelho todo ficar rachado. Gustavo viu seu rosto refletido em centenas de cacos até que um vulto passou por dentro do espelho e este explodiu. Gustavo não hesitou em abrir a porta e sair daquele aposento o mais rápido possível. Já no corredor, olhou para trás a tempo de ver a porta se fechando e um espelho inteiro no fundo do aposento.
- Preciso sair daqui – Murmurou. Então se lembrou que precisava pedir ajuda, começou a procurar por um telefone. O silêncio voltou a ser quebrado pelas portas que Gustavo abria. No andar superior, encontrou apenas aposentos vazios ou com pouquíssimos móveis. Desceu a escada, olhou para a cozinha, os armários continuavam fechados. Escutou passos no andar de cima, e logo depois a antiga música voltou a tocar. Um arrepio percorreu a espinha dele. Tentou abrir a porta do fundo, mas estava trancada, a porta da esquerda estava aberta, mas o interruptor não funcionou. Gustavo começou a tatear procurando um telefone, estava quase do outro lado do aposento quando ouviu o barulho da porta que se fechou. Não vendo mais a luz que entrava pela porta, tentou voltar mas trombou em uma espécie de mesa, baixa, caindo com as mãos por cima dela. Sentiu algo gosmento ali em cima, tentando se afastar escorregou e caiu de costas no chão, ficando sem ar nos pulmões. As luzes se acenderam. O aposento era revestido de azulejos brancos, balcões nas paredes de aço inoxidável, ele trombou e escorregou em uma mesa também de aço, ao tentar se levantar, percebeu que o chão estava pegajoso também, olhou para baixo e viu um líquido grosso e vermelho escuro.
- Sangue. – Disse empalidecendo. Ficou de pé e viu em cima da mesa, algumas partes de um corpo. Perna, braço, algo que parecia um pulmão, outros órgãos que não conseguiu identificar. Correu para a porta a fim de sair dali o mais rápido possível. As luzes diminuíram de intensidade e a porta do outro lado do aposento foi se abrindo lentamente, enquanto soltava um rangido alto. Gustavo chegou à porta que usou para entrar, mas esta estava trancada. Voltou-se para a porta que abria e viu uma pessoa entrando.
- Graças a... – Parou abruptamente quando percebeu a figura que entrava. Duas órbitas vazias onde deveriam estar os olhos, uma imensa cicatriz em forma de meia lua cortava toda a testa e descia pela bochecha esquerda até a boca. O nariz era afundado e torto, havia mais espaços do que dentes na boca. O pescoço grosso e cheio de veias sumia abruptamente por baixo de uma camiseta que só revelava uma estrela vermelha na ponta conde podia-se ler “PT” em branco, pois ali começava um avental tão sujo, com manchas vermelhas e marrons por todo lado, que era difícil dizer qual sua cor original. O avental cobria todo o corpo e só era possível ver os pés das botas azuis de plástico, curiosamente limpas e brilhantes. Os braços musculosos pendiam ao lado do corpo, em uma mão havia uma corda enrolada, na outra um cutelo muito grande. Gustavo voltou à porta tentando abrir, chutando e socando, mas esta continuava fechada. O barulho de uma pancada na porta, rente ao seu rosto, fez Gustavo voltar toda sua atenção ao cutelo que se enterrou na madeira ao seu lado. O cutelo estava manchado de vermelho, mas esse detalhe passou despercebido para Gustavo, que sentiu alívio ao perceber que a porta cedeu depois desse golpe. Saiu correndo dali direto para a porta de entrada. Tentou abrir mas esta estava trancada também. Sentiu sua orelha começar a arder, levou a mão e não sentiu nada ali. O cutelo levara quase toda sua orelha esquerda. Ouviu o som do cutelo sendo arrancado da porta e subiu pelas escadas. A música antiga tocava mais alto agora. Abriu a primeira porta que encontrou e entrou. Logo ouviu pancadas na porta. Procurou um interruptor e acendeu. Era um aposento absurdamente grande, tinha pelo menos cem metros de parede a parede. De um lado, havia uma janela aberta para a noite escura, do outro uma porta dupla, onde não podia-se ver nada além do seu batente. As pancadas na porta atrás de si ficaram mais fortes, ela poderia ceder a qualquer momento. Ouviu um guincho alto e forte que vinha da direção da porta dupla, depois outros guinchos mais fracos, logo o som de várias pancadinhas no chão. Uma sombra saiu daquela porta, parecia um jacaré todo negro, com os braços e pernas maiores, olhos vermelhos que brilhavam na escuridão. Logo outros seres com a mesma forma, mas tamanhos diferentes, começaram a sair pela porta. Alguns vinham em sua direção pelo chão, outros pelo teto, os que saíram pelos lados logo subiam para o teto ou desciam para o chão. Gustavo começou a correr para a janela. Quanto mais corria, mais a janela parecia estar longe. Suas pernas pareceram ficar pesadas e pegajosas, como se estivesse correndo em um lamaçal. Olhou para trás e viu uma figura alta saindo no meio daqueles estranhos seres. Como uma pessoa coberta por um manto preto, com o capuz tampando toda a cabeça. Nas mãos carregava uma foice vermelha, maior que a própria figura. A visão de tal figura deu forças a Gustavo. Voltou a correr com todas as suas forças em direção à janela. Chegando perto da janela, uma luz forte brilhou para dentro da sala, deixando-o cego, mas nem assim parou de correr. Chegando perto da janela, ouviu o barulho de um helicóptero. Pareceu também ouvir vozes bem distantes, mas a lembrança da imagem da figura que viu atrás de si, fez com que se atirasse pela janela no ruma da luz.
- Senhor, pode me ouvir? – A voz parecia distante, a cabeça doía, tudo era confuso. Barulhos de máquinas, pessoas conversando, tudo se misturava na cabeça de Gustavo. Abriu os olhos mas uma luz forte o cegava, tentou levar as mãos aos olhos, mas esta não se mexeu.
– Senhor, está tudo bem agora... – dizia a voz de um homem, mas a consciência de Gustavo demorava a voltar. De repente, tudo veio em sua mente de uma vez. Gustavo se desesperou e tentou sair dali o mais rápido possível, mas descobriu que estava preso, seu corpo todo doía, estava pendendo para a direita, como se estivesse sentado de lado.
- Aqui está, vamos logo com isso. – Ouviu outra voz dizendo. Ouviu barulho de metais sendo serrados, motores ligados, plásticos se rasgando.
- Pode me ouvir? – Disse a voz anterior.
– Estamos te tirando daqui agora, você vai para um hospital e tudo vai ficar bem.
A mente de Gustavo clareou, e ele percebeu que estava preso dentro de um carro, o volante o pressionava contra o banco, a chuva continuava a cair em cima dele. Tudo tremia, um helicóptero estava pousado ali perto, vários homens tentavam abrir as ferragens do carro e tirar seu corpo dali. Demorou o que pareceram horas para que o tirassem dali, o tempo todo com dores muito fortes, mas um homem conversava com ele tentando tranquiliza-lo. Então ele foi retirado do carro e levado em uma maca ao helicóptero.