Título: Berserker Vol. I - O Último Berserker Autor: Fernando S Florim Ano de Lançamento: 2020 Editora: Revolt Páginas: 250 ISBN: 987-65-00-1253-0 Sinopse: Em uma terra esquecida, onde a magia ainda corria sobre o mundo, após a grande guerra do bem contra o mal, testemunhe o desenvolvimento de um garoto que teve toda sua raça dizimada quando ainda era um bebê. Descobrindo suas extraordinárias habilidades, criando laços de amizade, conhecendo lugares exóticos e criaturas selvagens, e superando seus limites para continuar em frente.
Aaron foi criado por um carpinteiro, em uma vila pacífica, mas não tinha amigos, sempre foi rejeitado pelas outras crianças que notavam a diferença física entre ele e o pai. Em um dia comum, foi atacado por elfos, sem saber o motivo. Foi salvo por um homem a quem só conheciade vista, que revelou o fato dele ser o último de sua raça (Berserkers) vivo. Instigou o rapaz a fugir e se esconder dos elfos, sem maiores explicações. Então Aaron decide procurar por informações sobre seu passado. Onde Comprar:
Leia os primeiros capítulos:
Capítulo 1
Jonas estava acabando de entalhar os pés de uma cadeira quando Aaron chegou da rua, tinha ido comprar algumas verduras com o pouco dinheiro que tinham. Jonas era um carpinteiro habilidoso, fazia mesas, cadeiras o qualquer coisa que lhe pedissem. O problema é que esta era uma época difícil, onde todos aprendiam a lidar com a madeira desde cedo, e construir suas casas e móveis com as próprias mãos, então era difícil alguém querer gastar dinheiro com um móvel mais elaborado.
Aaron era seu filho, apesar de não parecer com Jonas. Por isso era alvo de comentários dos moradores da vila e os outros meninos evitavam o contato com ele. Agora chegando aos dezesseis anos, começou a ficar interessado no mundo fora da vila, quando ouvia os comerciantes conversando sobre lugares diferentes e aventuras fantásticas.
Como não tinha amigos, Aaron gostava de ficar à porta da taverna ouvindo as conversas e às vezes participando delas.
Jonas chegara à cidade Quinze anos antes, com o filho ainda bebê nos braços e a roupa do corpo. Foi acolhido por Rachid, o ferreiro da vila, até que se recuperou. Quando Jonas se recuperou, ajudou Rachid até conseguir construir um pequeno casebre com uma oficina onde pôde se dedicar à carpintaria.
- Pai o dinheiro deu pra comprar apenas dois repolhos. Não aguento mais comer repolho, eu queria carne.
- Filho, seja agradecido por termos o repolho para comer. Antes de você nascer, existiam muito mais Orcs espalhados pela terra, e era muito mais difícil conseguir comida, apenas em cidades maiores onde as pessoas conseguiam se defender, que conseguiam cultivar comida.
- Mas como eram esses Orcs? Eles sumiram mesmo? Ainda escuto os viajantes falarem que foram atacados por eles.
- Não sumiram filho, estão acuados mais pra longe do mar, na terra seca, mas ainda viajam em grupos e atacam viajantes despreparados. São criaturas nojentas, comem a carne das pessoas que matam. Não são burros, mas também não são tão inteligentes. Se você ver um, o melhor que tem a fazer é fugir bem depressa.
- Mas como vou saber como eles são?
- Você vai saber, filho. Eles fedem a carne podre, tem uma pele que parece couro velho, a pele é cinza ou verde escura, têm cabelo preto, grosso e escorrido. Geralmente vestem armaduras velhas e enferrujadas que roubam das pessoas que matam. E tem cara de mau.
- Hahaha! Gostei dessa! Cara de mau! Eu sei fazer cara de mau...
- Hehe! Mas falando sério, quando você olha nos olhos de um orc, você vê apenas maldade pura. Eles não se importam de matar alguém, mesmo sendo uma criança ou um velho que não consegue correr.
- Mas voltando ao assunto de antes, como que a gente consegue carne? Faz muito tempo que não como carne.
- Você pode tentar caçar aqui por perto, vou te fazer um estilingue e você pode tentar caçar uns pássaros pra gente comer.
- Estilingue? Ah, você acha que ainda sou criança? Te ajudo todo dia aqui. Você consegue fazer um arco e algumas flechas?
- Hehe! Esqueço o quanto você cresceu, vou conversar com o Rachid e fazer um arco pra você treinar.
- Mas pra quê conversar com ele?
- As flechas têm a ponta de ferro meu filho, e ele é o ferreiro da vila.
E assim Aaron ganhou um arco e algumas flechas. Treinava dia após dia, mas não conseguia melhorar a pontaria. Era um arqueiro ordinário. Mas ele achava muito bom porque mesmo saindo todo dia pra caçar, conseguia um pato ou um javali pequeno uma vez por semana. Descobriu que tinha muita habilidade com uma faca que ganhou para limpar a caça, até aprendeu a arremessar com precisão essa lâmina.
Um dia, logo no começo do inverno, mas antes do tempo começar a esfriar realmente, Aaron saiu para caçar no meio da tarde, como era hábito desde que aprendera a atirar com o arco. Após entrar uns trezentos metros dentro da floresta, se deparou com marcas de patas maiores que o normal no meio do vale. Se alegrou, pois imaginou um javali bem grande, que renderia carne para a semana inteira, talvez até mais tempo. Seguiu a trilha por mais de um quilômetro mata adentro quando ouviu um assovio rápido e fraco e, por puro reflexo, jogou a cabeça para trás, se desviando de uma flecha que chegou a deixar um arranhado na sua face.
Na mesma hora se levantou e começou a correr pelo caminho por onde viera, mas foi interceptado pelo que parecia um homem muito alto e esguio. Esse homem levantou o braço, no qual segurava uma espada curta que parecia bastante afiada e se jogou na direção do jovem. Tudo aconteceu em questões de segundos, quando esse homem estava perto de Aaron, um outro homem menor, porém mais forte, o agarrou por trás e passou uma faca no pescoço do primeiro.
- Fuja garoto!
Atordoado de espanto, por reconhecer a voz como sendo de Alkor, um aldeão ranzinza que comprava peles de animais e curtia para vender, mas que não gostava de conversa e nem tinha amizade com ninguém, Aaron ficou como que paralisado.
- Vamos moleque, quer morrer? – Mas ao dar dois passos na direção do rapaz para pegá-lo pelo braço e o levar para longe dali, recebeu uma flechada no meio do estômago. Caiu de joelhos e tombou para o lado.
Com o choque, Aaron se levantou, mas antes de começar a correr, uma mão forte como aço agarrou seu ombro. Ele se virou e deu de cara com outro homem, magro e alto também, mas com a pele azulada. Apesar de ele ter uma beleza diferente, selvagem, exótica, a expressão era feroz, com vontade de matar.
Aaron só sentiu o choque, quase não conseguiu ver o borrão que se chocou com o elfo, mas viu Alkor e o elfo caindo vários metros para o lado. Alkor bateu com uma fúria inimaginável no elfo e a cada pancada, se ouvia o som dos ossos do elfo se quebrando, e até dava para sentir a vibração dos impactos. Tudo isso não durou mais que três ou quatro segundos, mas Aaron conseguiu distinguir quase todos os detalhes.
O velho caiu do lado do elfo e, ainda arqueado e sofrendo, conseguiu conversar com Aaron.
- Creio que eram só esses dois bastardos.
- Quem é você? Por que matou eles? Como sabia que eles estavam aqui? Por que me atacaram? Como você é tão forte?
- Calma aí pentelho, vou te contar algumas coisas, mas tem que ter paciência, acho que não escapo dessa, a flecha pegou no meu estômago, vou morrer devagar, mas a morte é certa.
Então Aaron se aproximou e viu o rosto cansado e vincado pelo tempo.
- Você não tem ideia de quem é, sua linhagem é julgada extinta há anos, e agora, quando eu morrer, você será o último Berserker vivo.
- Berserker? O que é isso? Você está louco? Nunca ouvi falar disso!
- Os Berserkers foram mortos durante a última grande guerra, não se pode provar, mas foram os elfos de Mellian que mataram todos os remanescentes da linhagem. Apenas você foi poupado, pois sua mãe teve uma premonição e te escondeu no caminho perto do reino de Glascow onde Jonas o achou.
- Você é louco, Jonas é meu pai.
- Seu nome é Klael Uhara, filho de Leon Uhara, antigo rei de Glascow, descendente de uma linhagem antiga de Berserkers. Agora o último deles vivo.
- Velho como pode inventar tantas mentiras?
- Tolo! Você acha que esse ataque dos elfos foi gratuito? Agora que eles descobriram que você está vivo, vão vir te matar, fuja o quanto antes e aprenda a se defender. Eu me instalei aqui na vila para tentar te proteger caso isso acontecesse um dia.
- Mas nunca ouvi falar de Berserkers e...
- Isso foi proibido, quem falava dos Berserkers aparecia morto algum tempo depois, tenho certeza que foram os elfos, mas o povo acha que é uma maldição. Então ninguém fala sobre eles, mas eles eram uma linhagem nobre de guerreiros poderosos e argh!
- O que foi?
- Acho que meu tempo está acabando. Pegue isso! – Aaron pegou uma caixa pequena sem tampa nem fecho de lado algum.
- O que é isso?
- Isso vai te ajudar a encontrar suas origens. Agora vá, e não fale como ninguém sobre os Berserkers, procure algum centro de conhecimento.
- O que é isso?
- Vá...
- Me fala o que você quer dizer com isso. O que é um “Centro de Conhecimento”?
- Alkor... Alkor!!!
Mas o velho não respondeu mais. Morreu ali, com os olhos abertos. Aaron recolheu as espadas e o arco dos dois elfos, enrolou em um pedaço de pele que Alkor trazia consigo e correu para casa.
Capítulo 2
Aaron chegou em casa sem fôlego, sujo, suado. Correu para seu canto no casebre e soltou a pele lá. Se sentou para descansar.
- Aaron, o que aconteceu? Porque está tão sujo? Parece que veio correndo por horas.
- Pai, você é meu pai mesmo?
- Claro que sou seu pai, do que você está falando?
- Você disse que a mamãe morreu quando eu era pequeno, mas nós somos tão diferentes, o pessoal da vila comenta, diz que não sou seu filho.
- Aaron... Como digo isso? Eu te criei desde bebê, sozinho.
- Eu sei disso, você sempre será meu pai, mas nós temos o mesmo sangue?
- Sangue? O que é o sangue? Pai é quem cria, quem nunca te abandona quem está com você nos bons e nos maus momentos!
- Eu fui atacado hoje e me falaram que era por causa do meu sangue!
- Atacado? Como? Por quem?
- Pai, se tiver algo para me contar, a hora é agora.
- Está bem. É difícil pra mim falar nisso, mas acho que você está grande o suficiente para compreender.
Jonas foi do outro lado do casebre, onde abriu um baú antigo e tirou um pedaço de pano e o entregou a Aaron. No pano tinha um papel onde estava escrito: “Cuide dele, por favor,”.
- Durante a última guerra, os orcs invadiram minha fazenda e mataram minha mulher e meu filho de dois anos. Eu fui dado como morto, mas estava somente ferido. Com uma angústia que não cabia em mim, saí andando a esmo e, depois de quatro dias, comendo uma fruta ou resto de comida que achava nos campos, vi esse pano no meio de uns escombros, e que surpresa ao ver um bebê lá dentro. Era você Aaron, você me salvou naquele momento. Me deu sentido para viver. Peguei você e fugi para o mais longe que pude chegar.
Aaron olhava com os olhos cheios de lágrimas para Jonas, mas não dizia nada.
- Quando não aguentava mais andar, Rachid nos encontrou e nos deu abrigo. Sou eternamente grato a ele, ajudei por um tempo até conseguir montar essa oficina e essa casa.
- Pai... Eu tenho que ir embora.
- O que? Você está louco? Você é uma criança!
- Não sou criança! E estou sendo perseguido, se ficar comigo pode morrer. Alkor foi morto hoje.
- Alkor? Aquele velho ranzinza? O que ele tem a ver com a história?
- Pai...
- Você não vai a lugar algum.
- Mas...
- Nada de mais, vá lavar as mãos e vamos comer.
- E...
- Nem uma palavra a mais! Vai agora!
E Aaron foi. Lavou as mãos, o rosto, tirou a roupa, deu uma sacudida e colocou novamente. Quando voltou, comeu repolho.
Não conseguiu dormir e no meio da noite, quando Jonas finalmente conseguiu pegar no sono, ele separou os escassos pertences, juntou a pele com as armas que achou, escreveu no mesmo bilhete que estava preso ao pano onde foi achado: “Pai. Te amo.”, e se foi.
Ele só conhecia a floresta onde caçava, e ainda era noite. Resolveu pegar uma trilha por onde chegavam os viajantes, mas foi cheio de dúvidas. Onde isso vai dar? Pra onde vou? Que direção é essa? O que vou fazer da vida? Andou o resto da noite e o dia inteiro sem parar, não conhecia as plantas que beiravam o caminho, mas passou por um riacho onde conseguiu beber água.
Ao cair da noite, sentou atrás de uma imensa árvore, ficando escondido da estrada. Em menos de um minuto dormia profundamente. Acordou faminto, mas como não preparou nenhuma provisão, começou a procurar por algo comestível. Tinha perdido seu arco na luta com os elfos, mas a faca ficou pendurada na lateral de sua calça.
Achou uma fruta verde raiada de roxo, do tamanho de uma laranja. Com a ajuda da faca, tirou ela da planta e a cortou no meio. Quando foi dar a primeira mordida ouviu:
- Se eu fosse você não faria isso.
Ele pulou para trás assustado com a voz, e ao olhar para o lado, deu de cara com um jovem mais ou menos da sua idade, mas que usava umas roupas de um tecido diferente, que ficavam folgadas e caindo as sobras, não o tecido duro que era sua camisa que quase nem se mexia.
- Quem é você? O que quer?
- Hehe, calma aí rapaz, se eu quisesse te fazer mal, tinha te pegado de surpresa... Parece faminto, pega! – E jogou um pedaço de pão para Aaron.
- Sou Christofer, estou viajando atrás de conhecimento.
- Conhecimento? Está procurando algum “Centro de conhecimento”?
- Hahaha! Você é muito engraçado. Se estiver se referindo às bibliotecas, não. A maioria foi inutilizada durante a última guerra. Estou procurando outros magos para me ajudar a conseguir poder.
- Então não existem mais bibliotecas?
- Qual seu nome rapaz?
- Desculpe, sou Aaron.
- Muito prazer Aaron, e sobre as bibliotecas, existem pouquíssimas. Por coincidência, estou indo a um castelo no norte de Ghostard, onde tem magos poderosos que podem me ajudar nos meus estudos.
- Ghostard?
- Ghostard. O país, Continente, mundo ou como você queira chamar. O lugar onde vivemos. De que planeta você é?
- Desculpe.
- Gostei de você, para onde você está indo?
- Estou procurando uma biblioteca.
- Você? Mas por quê?
- Não é da sua conta!
- Hey, Não precisa ser assim... Certo, se você quiser, pode me acompanhar. É muito longe para fazer uma viagem dessas sozinho.
- Obrigado.
Agora Aaron sabia, pelo menos, o nome de um “Centro de Conhecimento” e que estavam indo para o norte.
Capítulo 3
Aaron e Christofer seguiram por vários dias uma viagem tranquila, seguindo perto da estrada, mas nunca por ela. Às vezes viam pessoas passando pela estrada, mas procuravam evitá-las.
- Existem muitos bandidos, ladrões, sequestradores nessas áreas, por isso devemos evitar ao máximo o contato com eles. – Dizia Christofer.
Conforme os dias iam passando a amizade entre eles ia crescendo, principalmente para Aaron, que nunca teve um amigo de verdade.
- Como é ser um mago? Como funciona esse negócio de magia?
- Hummm... Vou tentar te explicar. Quando você anda, corre, faz exercícios, você fica cansado certo? É porque você perdeu energia. Essa energia pode ser manipulada, é uma energia que tem em todas as coisas, está entendendo?
- Mais ou menos. O que tem a ver essa energia que nos faz andar com a mágica?
- Calma já vou chegar lá. Você pode treinar seu corpo para armazenar essa energia, mais que o normal, e depois, pelo pensamento, você consegue transformar essa energia em outra energia, por exemplo, o fogo. – Christofer disse algumas palavras que Aaron não entendeu, fez um gesto com a mão e de repente apareceu uma pequena bola de fogo flutuando a dois centímetros da palma de sua mão.
- Raz! - E a bola de fogo se desfez.
- Caramba, que legal, me ensina a fazer isso?
- Posso tentar, mas você tem que por na cabeça que pode nunca conseguir, não são todas as pessoas que conseguem manipular essa energia.
- Esse é o nome mesmo? Energia?
- Hehe, não. Diferentes culturas dão diferentes nomes: Ky, Chakra, Energia Vital, Aura, Cosmos etc. Tente sentir essa energia dentro de você. Fique sentado nessa pedra. Respire fundo várias vezes. Agora sinta o ar entrando e saindo de dentro do seu corpo, imagine a energia entrando e saindo junto com o ar. Imagine a energia gasta pelo seu corpo para puxar o ar e depois para soltar esse ar.
- Não sinto nada.
- Nem deveria, você vai repetir esse exercício sempre que estiver sozinho, ou parado. Em pouco tempo deve sentir a energia, ela parece que queima ao passar pelo corpo.
- Você sabe lutar?
- Luta corpo a corpo não é o meu forte, mas sei me defender razoavelmente bem quando preciso.
- Me ensina?
- Bom, temos muito tempo livre mesmo, ainda nem chegamos perto de Sirbel que é a cidade mais próxima onde tenho um amigo que pode nos dar abrigo para descansar uns dias.
Usando sua faca, Aaron cortou dois pedaços de uma árvore do tamanho de espadas médias, entalhou uma empunhadura para não machucarem suas mãos e tirou as pontas e farpas para não se machucarem.
- Puxa, você leva jeito com madeira.
- Meu pai era carpinteiro, eu ajudava às vezes na oficina.
- Você nunca me falou sobre seu pai.
- Não tem muito o que falar, nós vivíamos em um vilarejo pobre e lutávamos para sobreviver.
- E o que o fez sair desse vilarejo para procurar uma biblioteca?
Mas Aaron guardou silêncio e nada falou sobre isso.
Os dias passaram rápidos e logo três semanas se passaram, onde Aaron aprendia cada vez mais sobre o manejo da espada de madeira, demonstrando uma habilidade natural para essa arma, mas ainda não conseguia ganhar de Christofer. Todo dia ele tentava sentir a energia entrando e saindo do corpo, e já começava a perceber a diferença do ar entrando e a energia entrando.
Quando estavam relativamente perto de Sirbel, relaxaram na vigilância e foram surpreendidos numa manhã gelada, por três pessoas que os agarraram, amarraram e os deixaram juntos num canto enquanto discutiam para quem ia vendê-los. Christofer se posicionou de frente aos homens e disse baixinho:
- Flint!
Uma pequena chama se formou entre as mãos de Christofer, queimando as cordas que o prendiam. Quando a corda se partiu, ele parou a magia e pegou uma pequena adaga que trazia no bolso, libertando Aaron sem que o trio percebesse. No momento em que os três estavam virados para o outro lado, Christofer e Aaron pegaram as espadas de madeira e bateram na cabeça de dois dos bandidos ao mesmo tempo. Os dois caíram desmaiados, porém o terceiro percebeu e sacou uma espada para enfrentá-los. Uma espada real, afiada, contra duas de madeira. Aaron tentou atacar primeiro, para pegar o bandido de surpresa, mas no primeiro golpe, sua espada se chocou com a de metal e se partiu no meio. O bandido já preparava o segundo golpe, mortal, quando se ouviu:
- Flint Hei!
Imediatamente o cabelo do bandido começou a pegar fogo e ele ficou desesperado. Aproveitando da situação, Christofer bateu com toda a força com sua espada de madeira na cabeça do bandido, deixando-o nocauteado como os outros dois. Eles amarraram os três em de costas para uma árvore, pegaram duas de suas espadas e se foram, antes que acordassem.
Três dias depois, os guardas de Sirbel, viam dois garotos chegando pela estrada. O primeiro vestia um colete de pele tingido de branco, mas sujo de terra e uma calça da mesma pele, mas na cor original, um marrom meio claro, as duas peças pareciam mal acabadas e mais duras que o normal, tinha cabelos e olhos castanhos escuros. Levava o que parecia ser um embornal e uns pertences enrolados em uma pele, pendurados por uma corda que passava pelo pescoço e enrolava a pele do outro lado do corpo. O segundo garoto usava roupas mais folgadas, uma camisa azul clara que caia por cima da calça, pareciam de um tecido bem leve que não protegiam nada, a calça também folgada era azul escura. Tinha o cabelo castanho bem claro, quase loiro e os olhos verdes. Só se via uma tira de couro atravessando o peito, mas podia-se imaginar que tinha algum tipo de bolsa pesada nas costas, pelo jeito que o couro apertava o rapaz. Os dois estavam muito sujos e carregavam uma espada velha na cintura.
- Alto lá. Quem são vocês e o que querem em Sirbel?
- Somos viajantes, queremos apenas achar uma pousada para descansar antes de seguir adiante.
- Têm dinheiro para pagar a pousada?
- Claro. – E Christofer chacoalhou uma bolsinha pendurada na lateral de sua calça, escondida embaixo da sua camisa.
- Hummm. Está bem, podem entrar.
Como a cidade era cercada por um muro alto, eles não viam nada do interior, por isso quando passaram pelos portões, Aaron levou um choque, pois nunca tinha saído da sua vila. As casas eram feitas na maioria de pedras sobrepostas, com portas pesadas de madeira, e logo após duas casas já existia mais um muro de pedras, ainda maior que o externo, então se formava um cinturão de casas em volta desse muro, onde tinha um segundo portão, mas nesse os guardas não perguntavam nada, pareciam entediados.
- Meu amigo disse que essas são casas onde moram os guardas, ficam sempre de prontidão para o caso de um ataque. O segundo muro é largo e fica cheio de arqueiros em cima, pois se o primeiro portão for derrubado, eles matam as pessoas lá de cima.
- E os arcos são suficientes para conter os invasores?
- Claro que não, eles jogam óleo fervendo, pedras grandes e outras coisas que puderem encontrar para parar os inimigos, essa cidade não tem uma grande importância política, mas está bem localizada por ser uma cidade costeira.
- Cidade costeira? Tem um mar aqui?
- Hehehe, não te contei? Os fundos da cidade dão para o mar, então o comércio é a principal fonte de renda da cidade.
- Puxa, nunca vi o mar.
- Vamos direto te levar para conhecer o mar então.
Mas para isso, eles teriam que passar pelo centro da cidade, e Aaron viu, pela primeira vez, uma grande cidade. Tavernas barulhentas e abarrotadas de gente, em algumas tinham pessoas dormindo na porta, em outras, pessoas sendo jogadas pela porta. Lojas que vendiam todo tipo de coisas, desde panos até redes de pesca. Ficou encantado ao passar por uma feira livre, onde eram vendidos vários tipos de frutas. Nunca tinha visto tanta comida junto. Casas onde as pessoas formavam uma roda e jogavam umas pedrinhas no meio, gritando “Seis” ou outro número, enquanto alguns riam, outros xingavam. Passaram por casas enormes, feitas de pedras empilhadas, com jardins bem cuidados na frente, dois andares, e também passaram por casas pequenas, feitas de palha e madeira. Pessoas dormiam no canto da rua.
Finalmente, ao dobrar uma esquina, deram quase que de frente para o mar, tinha apenas um barracão, mas que ficava em um nível mais baixo da rua que eles estavam.
Nessa hora o coração de Aaron falhou. Ele nunca tinha visto algo tão bonito como o mar. Se apaixonou pelo mar e sabia que queria terminar seus dias em algum lugar perto dele. Quase caiu do barranco na frente dele, se Christofer não tivesse segurado ele, teria caído.
Todo o cais e a rua onde ficavam armazéns, lojas de peixes, cabanas de pescadores, etc., ficava em uma rua bem mais baixa, sendo acessada por escadas íngremes. Aaron notou cordas duplas passando da rua abaixo até casas ou barracões na rua de cima.
- Parece que fizeram um sistema de transporte para subir as mercadorias sem usar a escada.
Como já estava escurecendo, Christofer chamou Aaron e voltaram para achar a casa do seu amigo. Tirou um pequeno mapa da bolsa, estudou por alguns momentos e disse:
- É apenas três quadras adiante, depois viramos à esquerda e andamos mais uma quadra.
Ao chegarem ao local, deram com uma casa enorme, que parecia ter sido uma das mais bonitas da cidade, porém estava abandonada. A começar pelos muros sujos e o portão de entrada quebrado. Ao entrarem pelo portão, o mato tomava conta do caminho que levava a casa, eles avançaram e quando estavam perto saiu uma mulher carrancuda da casa.
- O que vocês querem aqui? Saiam imediatamente.
- Estou procurando Ferber, disse que morava aqui.
- A família que morava aqui fugiu faz quase um ano, saiam daqui.
- Para onde eles foram?
- Como vou saber?
E a mulher entrou na casa e bateu a porta.
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Video B1 | Publicado em 24/12/2020 às 08:14
Lançamento do Livro O Último Berserker | Publicado em 14/12/2020 às 22:48
Matéria Diário da Região 12/12/2020 | Publicado em 12/12/2020 às 13:12
Rio-pretense cria um mundo fantástico em trilogia literária
Funcionário público de Rio Preto faz sua estreia como escritor com o livro "O Último Berserker", primeira parte de sua trilogia épica. Autor criou um hotsite com mapas, magias e outros detalhes da obra
Em uma terra esquecida, onde a magia ainda corria sobre o mundo, após a grande guerra do bem contra o mal, um garoto tem toda sua raça dizimada quando ainda era um bebê. Aaron foi criado por um carpinteiro e, em um dia comum, foi atacado por elfos, sem saber o motivo. Foi salvo por um homem a quem só conhecia de vista, que revelou o fato dele ser o último de sua raça, os Berserkers. Esse é o enredo de "O Último Berserker", primeira parte da trilogia que une ficção e fantasia do rio-pretense Fernando Florim. Funcionário público, ele faz sua estreia como escritor após dedicar cinco anos concebendo, por meio da escrita, um continente fictício habitado por elfos, anões e outros seres fantásticos.
Basicamente, Berserker é o nome dado aos guerreiros nórdicos ferozes que haviam jurado fidelidade ao deus Odin. Originados da Germânia, eles despertavam uma fúria incontrolável antes de qualquer batalha. No entanto, há pouco conteúdo a respeito dessa mitologia, o que despertou o interesse do escritor em colocá-los como protagonista de sua jornada épica, cuja a segunda parte já está escrita e a terceira, em fase de produção.
"Sou um leitor voraz e sempre cultivei o desejo de escrever uma história para contar aos meus filhos", fiz Florim, que faz o lançamento de "O Último Berserker" neste sábado, 12, às 20h, no Mimos Buffet (Av. Monte Aprazível, 4366). Na internet, ele mantém um site (fernandoflorim.com.br) em que publica contos. Além disso, para quem quiser ficar por dentro do lugar habitado por seus seres fantásticos, ele criou um hotsite com mapas, magias e outras curiosidades presentes na história da trilogia: berserker.fernandoflorim.com.br.
Sim, Florim é apaixonado por enredos fantásticos e épicos de obras como "O Senhor dos Anéis" (J. R. R. Tolkien) e "A Guerra dos Tronos" (George R. R. Martin), além do suspense de nomes como Stephen King. Sãos inspirações, mas o rio-pretense imprime sua identidade criativa em sua primeira publicação. "Criei uma trama muito bem amarrada, com ganchos que interligam as três partes", sinaliza. Aliás, ele não descarta a possibilidade da história de seu mundo fantástico ficar apenas em três livros.
No site de Florim, os leitores e leitoras encontrarão os links para adquirir a sua obra de estreia.
Trecho:
"Quando Raika abriu os olhos, Christofer e Aaron não estavam por perto. Levantou-se e os viu perto de uma fogueira. Ao se aproximar, escutou a voz de Aaron:
- Como você está? Nos deu um susto ao desmaiar daquele jeito. Estamos fazendo algo quente para comer, estamos famintos.
- Bom também estou faminta. - Respondeu a elfa. - E estou bem, obrigada, só usei muita energia naquele golpe.
- Por falar nisso, como você fez aquilo? - Perguntou Christofer.
- Acho que foi o desespero, nunca fui boa com esse tipo de mágica. - Respondeu.